meu nome é mari maciota!


qualé a do padre influencer?

padres benzendo celulares

Uma coisa engraçada que tenho observado nessas férias é o conceito de padre com papo de autoajuda. Isso não é algo tão novo, mas meio que nos últimos tempos parece ter ganhado uma nova faceta, o padre influencer.

É interessante estar na cozinha com sua mãe enquanto ela assiste o papo mais chato e pau-mole que pode sair da boca de um cara, pra logo em seguida ouvir ele pedindo que você compartilhe essa “oração” no seu whatsapp com amigos e familiares. É uma estranha comodificação da fé no mundo digital. Mas além disso, é que a apresentação estética dessa oração tem uma vibe bem new age. Música tranquila, fala mansa e imagens de montanhas, vales, rios e um monte de coisa bonita.

Mas é o conteúdo de toda essa fala mansa a coisa que me pega. Essas orações tem como foco sempre um papo bem mundano sobre problemas do cotidiano. Traição, drogas, bebida. É no geral nada nocivo, e talvez sejam coisas que algumas pessoas até precisem escutar. Mas acho que é exatamente esse foco no cotidiano que torna esse tipo de coisa tão popular entre gente de meia-idade.

Acho que é a acessibilidade desses temas e da apresentação desses padres youtubers que me deixa um tanto que ansiosa, pois no final das contas eles não passam de influencers mascarados de sarcedote. Minha mãe nunca tinha sido alguém particularmente online, mas essa gente conseguiu coaptar a fé dela e transformar essa fé em engajamento digital. Hoje em dia ela já deve passar mais horas diárias no youtube do que eu na minha adolescência.

Será que fé é algo que pode resistir a transformação digital? Não sou desdenhosa com religião, e no geral tenho sentimentos um pouco complicados em relação a minha própria fé. Mas a crença não me parece algo que pode sobreviver a isso sem acabar perdendo algo no processo. Tudo que há de bom e honesto nela. Ou que aparenta ser bom e honesto. Quando todo engajamento com a fé parte de um pressuposto da exploração do ser, que é algo que não pode ser desvincilhado do famoso algoritmo, meio que a fé passa a parecer algo um tanto que desagradável. Algo um tanto que errado. Talvez simplesmente cruel.

Não gosto de nada disso.