panzer dragoon ii zwei
Duas nações se destroem nos céus, perseguindo uma máquina de guerra terrível de um tempo há muito esquecido. Na esperança vã de conquistá-la, trazem ainda mais dor para um mundo moribundo. Alheias as consequências de suas ações, incontáveis vidas são perdidas. Lundi e seu dragão Lagi, em um misto de desespero e vingança, se enfiam no meio desse terror na esperança cega de dar uma basta nisso.
Panzer Dragoon II Zwei tem pouco mais de uma horinha de duração, e você vai passar a maior parte dela nessa perseguição desenfreada atrás da Shelcoof. Eu amo pequenas experiências em videogames, talvez pelo fato de eu só não conseguir mais tankar 80+ horas pra qualquer coisinha que eu resolver começar a jogar, mas principalmente pelo fato de que um jogo curto pode se dar ao luxo de ter ritmo. Um ritmo* deliberado.
Lundi vive em uma pequena vila no meio do nada. Toda a economia local gira ao redor da criação de coolias, bestas de carga aparentemente inofensivas. Mas os seus moradores tem uma cruel superstição. Todo coolia que desenvolve essa estranha bioluminescência no pescoço é um suposto mal presságio, e logo é brutalmente morto. Lundi tem um desses coolias, Lagi, escondido em seu pequeno estábulo. Ele é incapaz de matar um animal indefeso por conta de uma superstição que ele mal entende. Mas além disso, esse animalzinho é especial.
Ele tem asas.
Zwei começa não como uma perseguição, mas como uma fuga. Fugimos pelo meio das ruínas da vila de Lundi, com ele montado em um assustado e desesperado Lagi. Ele ainda é incapaz de voar. Esse é o tutorial do jogo. Precisamos nos preocupar apenas como o movimento horizontal e poucas coisas vão nos atacar pelas costas, por enquanto. É uma noite escura, iluminada apenas pelas chamas que devoram o que restou da vila.
É um contraste forte com o começo do primeiro jogo. Ele também meio que é estruturado ao redor de uma perseguição, mas tem como o cenário da sua primeira fase ruínas paradisíacas banhadas pelo sol, perdidas no meio do mar. A perseguição é o início de uma aventura para salvar o mundo. Mesmo com um final um tanto que melancólico e abstrato, ainda é um jogo cheio de momentos de triunfo. Eu amo a primeira fase do Panzer Dragoon original, mas acho impressionante como o segundo consegue fazer tão mais com tão pouco.
Temos aqui uma historinha ligeiramente mais complexa, mas que consegue ser tão mais humana. As fases tem uma progressão tão natural, um ritmo que alcança níveis completamente desenfreados depois da segunda metade. E apesar de tudo, Zwei também tem seus momentos de triunfo. O primeiro voo do Lagi é um momento particularmente mágico, ainda mais por acontecer em gameplay, sem o jogo em momento algum te tirar o controle. Mas esses triunfos são apenas pequenas vitórias.
O sentimento de desespero nunca me deixou durante o jogo inteiro. Lungi e Lagi sempre pareciam sair de toda situação por pouco, por um triz. É um sentimento que poucos jogos conseguiram produzir em mim, e nunca imaginei que um deles seria um rail-shooter lançado pro Sega Saturn. Maluquice!
Falando nisso, esse jogo consegue rodar em 25 frames por segundo no Sega Saturn. Isso é quase magia! É um joguinho tão bem realizado visualmente em um hardware tão alien. Não consigo deixar de ficar um tanto que maravilhada. Com a adição da trilha sonora da Yayoi Wachi, se torna uma linda doideira audiovisual. Adoro as composições dela aqui, mesmo que não casem tão bem com as do jogo original. Particularmente amo a música da intro do jogo, e é uma pena que ela não tenha nenhum crédito depois dos anos 90.
Assim como também é uma pena que Panzer Dragoon acabou se tornando uma série um tanto que esquecida. Um remake medíocre foi tudo o que restou como legado de jogos tão genuinamente únicos. E até entre eles, talvez Zwei acabe ficando um pouco na sombra de Saga, que acaba sendo realmente um jogo bem mais ambicioso. Mas o que importa é que essa breve e brutal jornada de Lungi e Lagi aqui me fez querer gritar pro mundo.
Eu quero que esse joguinhos tenham mais visibilidade, e por mais que eu ame o Sega Saturn eu não quero que eles fiquem presos pra sempre em um console tão chatinho de emular! Eu não quero que obras tão interessantes se percam em um mar de Ghost Recon: Breakpoints, Rage 2s e Plants vs. Zombies: Battle for Neighborvilles e todos esses jogos de milhões de dólares que nem meia dúzia de gente dá a mínima. Eu nem sabia que Wildlands tinha tido uma continuação! Coisa de doido.
Amo Zwei de paixão.
"After all this, he is still with me..."